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Introdução<br />Pacientes com insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise sofrem, com frequência, de anormalidades nutricionais, 10% a 70% dos pacientes mantidos em hemodiálise e 18% a 56% dos pacientes em diálise peritoneal apresentam algum sinal de desnutrição. Prevalência semelhante tem sido observada em nosso meio, onde 69% das mulheres e 79% dos homens evidenciaram diminuição importante de parâmetros antropométricos.<br />O impacto da desnutrição sobre a morbidade e mortalidade desses pacientes tem sido amplamente estudado. Vários estudos demonstraram que a baixa adequação de peso e a reduzida concentração sérica de albumina e colesterol aumentam o risco de mortalidade nessa população.<br />Diversos fatores podem ser responsáveis pela desnutrição nesses pacientes, entre eles a anorexia com conseqüente redução do consumo alimentar tem sido apontada como uma das principais causas. Além disso, outras condições como distúrbios gastrointestinais, acidose metabólica, fatores associados ao procedimento dialítico, distúrbios hormonais, doenças associadas ou intercorrentes (diabetes mellitus, insuficiência cardíaca e infecções) podem também contribuir na fisiopatogênese dessa desnutrição9.<br />Conhecer e caracterizar adequadamente o estado nutricional de uma população em diálise é fundamental tanto para a prevenção da desnutrição quanto para intervir apropriadamente nos pacientes que já se apresentam desnutridos.<br />Objetivo<br />O presente trabalho foi caracterizar o estado nutricional de pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise em um centro de diálise de Paracatu MG.<br />Métodos<br />Foram estudados 165 pacientes em hemodiálise, na Clinica de Hemodiálise Nossa Senhora de Fátima, Paracatu MG, durante o período de 01/3/2010 a 01/4/2010. Foram incluídos no estudo pacientes maiores de 20 anos de idade, em programa de hemodiálise há pelo menos 1 mês, e que não apresentavam comorbidades. Foram excluídos aqueles em uso de corticosteróides, com infecções recentes (< 3 meses), tuberculose em tratamento, doença intestinal, alcoolismo crônico, HIV, doenças malignas, insuficiência cardíaca e pulmonar grave e insucessos de transplante renal nos últimos seis meses.<br />Os pacientes foram submetidos a uma avaliação nutricional, realizada por nutricionista treinada, que constou de medidas antropométricas, laboratoriais e de consumo alimentar. O registro alimentar de três dias foi a técnica empregada para avaliar a ingestão média de energia, proteína, lipídio, carboidrato, cálcio e fósforo. Os três dias compreendiam um dia em que o paciente se submetia a hemodiálise e dois dias sem o procedimento, excluindo-se sábado e domingo. Além disso, foi analisada a freqüência de consumo dos seguintes grupos alimentares: carnes, laticínios e ovos, cereais e leguminosas e frutas e hortaliças. Os dados coletados da avaliação nutricional foram armazenados e tratados utilizando-se um sistema computadorizado, o quot;
Sistema de apoio à decisão em nutrição – versão 2.5quot;
 do Centro de Informática da Faculdade Tecsoma.<br />Após a sessão de hemodiálise foram obtidas as seguintes medidas antropométricas: peso corporal, estatura, prega cutânea trícipital, bícipital, subescapular e suprailíaca e a circunferência do braço (CB). Os seguintes parâmetros foram calculados: peso ideal para estatura e capacidade física e índice de massa corporal (IMC), calculado pela razão entre o peso e o quadrado da estatura. A seguinte fórmula foi empregada no cálculo da circunferência muscular do braço (CMB): CMB(cm) = CB(cm) - (PCT em mm x 0,314). E a estimativa da porcentagem de gordura corporal foi realizada utilizando a seguinte formula: % de gordura = 4,95 / densidade corporal - 4,50 x 100, sendo considerados níveis normais de 15 a 18% para homens e 20 a 25% para mulheres. A adequação da PCT e da CMB foi calculada, utilizando-se a distribuição de Frisancho em relação aos 5º, 10º, 25º, 50º, 75º, 90º e 95º percentis definidos para a população normal. A classificação do estado nutricional baseou-se nas medidas da PCT e CMB, considerando-se como desnutrido ou com risco de desnutrição os pacientes com valores de PCT e/ou CMB menor ou igual ao percentil 5 do padrão de referência. Vale ressaltar as dificuldades em se caracterizar desnutrição na população de pacientes com IRC. Os padrões de referência das medidas antropométricas não são específicos para essa população, e nem mesmo para a população saudável brasileira, entretanto, essa ainda é a forma de avaliação nutricional mais utilizada e era a empregada na rotina da nutricionista da clínica. Além disso, as variações da água corporal podem influenciar as medidas antropométricas.<br />Foram analisados ainda parâmetros bioquímicos: uréia, creatinina, colesterol total e triglicerídeos, transferrina, cálcio e fósforo. A albumina foi medida pelo método verde de bromocresol (valor normal de 3,5 a 4,8 g/dL) e o PTH pela técnica imunoquimioluminométrica (valor normal de 10 a 65 pg/mL). Entre os parâmetros hematimétricos foram determinados hemoglobina, hematócrito e leucócitos totais. A ingestão protéica foi estimada calculando-se o equivalente protéico do aparecimento do nitrogênio (PNA). A eficiência da diálise foi estimada por meio do cálculo do Kt/V pela fórmula de Daugirdas II.<br />Resultados<br />64% dos pacientes eram do sexo masculino com idade variando de 18 a 84 anos. O tempo de tratamento dialítico variou de 3 a 127 meses, e a principal etiologia da insuficiência renal foi glomerulonefrite crônica 45,5%.<br />As médias dos níveis séricos de albumina, colesterol e transferrina encontravam-se dentro dos limites da normalidade. Somente 8% dos pacientes apresentavam níveis de albumina abaixo de 3,5 g/dL. Observamos ainda, que a média dos linfócitos se encontrava abaixo do normal, sendo que em 74% dos pacientes esta contagem era inferior a 1.500/mm3. As concentrações de cálcio, fósforo e PTH encontravam-se em média dentro do esperado para pacientes em hemodiálise.<br />O consumo de energia foi de 29,5±10,2 kcal/kg/dia, sendo que em 61% dos pacientes esteve abaixo de 35 kcal/kg/dia. O consumo protéico foi de 1,32 ± 0,4g/kg/dia, entretanto em 47% dos pacientes era inferior a 1,2 g/kg/dia e em 24% abaixo de 1,0 g/kg/dia. Observou-se ainda que, em média, 62% das proteínas consumidas eram de alto valor biológico. A estimativa de ingestão protéica avaliada pelo cálculo do PNA foi 1,14 ± 0,35g/kg/dia e em 42% dos pacientes os valores encontravam-se abaixo de 1g/kg/dia.<br />Verificou-se, em média, um reduzido consumo de cálcio, com 89% dos pacientes consumindo menos que 500 mg/dia. Em relação ao fósforo, o consumo médio esteve dentro dos limites recomendados para pacientes renais crônicos.<br />Como podemos observar, carne bovina, leite, pão, arroz, farinha e hortaliças foram consumidos em pelo menos um dos três dias avaliados pela maioria dos pacientes nos diferentes grupos alimentares.<br />A média do IMC esteve dentro do limite de normalidade (18,5 a 24,9 Kg/m2 ) e não diferiu entre os sexos. Entretanto, em 25% dos pacientes esse índice estava acima de 25 kg/m2 e em 4% abaixo de 18,5 kg/m2. Na população como um todo, a adequação da CMB, em média, esteve dentro do normal, de 90 a 110%, entretanto no sexo masculino a adequação foi significativamente menor que no sexo feminino e encontrava-se abaixo da faixa de eutrofia. Já a adequação da PCT encontrava-se abaixo da normalidade (60% a 110%) em ambos os sexos e a porcentagem de gordura corporal esteve dentro da normalidade no sexo masculino e se apresentava aumentada no sexo feminino.<br />Não houve correlação significante entre a PCT ou CMB com a idade, eficiência da diálise, etiologia da insuficiência renal, renda familiar e escolaridade.<br />Não observamos diferenças quanto ao sexo, idade, etiologia da insuficiência renal crônica, tempo em diálise, Kt/V e os níveis séricos de creatinina. Entretanto, os níveis de uréia e de fósforo dos pacientes desnutridos foram significativamente menores.<br />Conclusão<br />Este estudo teve como objetivo caracterizar o estado nutricional de pacientes em programa de hemodiálise na cidade Paracatu, onde existe uma população de etnias, culturas e bases alimentares diferenciadas.<br />Nossos resultados confirmam a elevada prevalência de desnutrição energético-protéica também em nossa população. Dos 165 pacientes estudados, 45% apresentavam desnutrição identificada por prega cutânea triciptal e/ou circunferência muscular do braço.<br />Muitos fatores de risco para ocorrência de desnutrição em pacientes dialisados têm sido estudados.<br />Em nosso projeto, não observamos correlação entre a etiologia da IRC e a idade com as medidas antropométricas.<br />O tempo em diálise parece também influenciar negativamente no peso e na composição corporal. Em nosso estudo, não observamos diferença entre tempo de diálise e os parâmetros antropométricos, ao compararmos os grupos de desnutridos e não desnutridos. Talvez o fato de nossa população ser constituída de pacientes jovens, em diálise por curto período de tempo e com poucos diabéticos, possa explicar de não termos observado essas associações.<br />As médias de albumina, colesterol e transferrina estavam dentro dos limites de normalidade nos pacientes estudados. Não encontramos correlação entre os níveis de albumina e os parâmetros antropométricos, e apenas 8% dos pacientes apresentam albumina menor que 3,5 g/dL. Além disso, não houve diferença nos níveis de albumina entre desnutridos e não desnutridos. No presente estudo, a albumina não se comportou como um marcador de desnutrição. Outros autores também observaram a baixa sensibilidade da albumina para detectar desnutrição.<br />Referência Bibliográfica<br />Revista de Nutrição.vol 17 no.3 Campinas July/Sept. 2004 ALBUMINA SÉRICA COMO MARCADOR NUTRICIONAL DE PACIENTES EM<br />HEMODIÁLISE.<br />Curso de Biomedicina<br />PROJETO DE PESQUISA<br />Paracatu, 01 de junho de 2010<br />Sabrina Moura Dorneles<br />      Albumina sérica como marcador nutricional de pacientes em hemodiálise<br />                                                                                         <br />                                                                Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina de                                                  Bioquimica II da Faculdade Tecsoma.<br />
Avaliação nutricional de pacientes renais crônicos em hemodiálise
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Avaliação nutricional de pacientes renais crônicos em hemodiálise

  • 1. Introdução<br />Pacientes com insuficiência renal crônica em programa de hemodiálise sofrem, com frequência, de anormalidades nutricionais, 10% a 70% dos pacientes mantidos em hemodiálise e 18% a 56% dos pacientes em diálise peritoneal apresentam algum sinal de desnutrição. Prevalência semelhante tem sido observada em nosso meio, onde 69% das mulheres e 79% dos homens evidenciaram diminuição importante de parâmetros antropométricos.<br />O impacto da desnutrição sobre a morbidade e mortalidade desses pacientes tem sido amplamente estudado. Vários estudos demonstraram que a baixa adequação de peso e a reduzida concentração sérica de albumina e colesterol aumentam o risco de mortalidade nessa população.<br />Diversos fatores podem ser responsáveis pela desnutrição nesses pacientes, entre eles a anorexia com conseqüente redução do consumo alimentar tem sido apontada como uma das principais causas. Além disso, outras condições como distúrbios gastrointestinais, acidose metabólica, fatores associados ao procedimento dialítico, distúrbios hormonais, doenças associadas ou intercorrentes (diabetes mellitus, insuficiência cardíaca e infecções) podem também contribuir na fisiopatogênese dessa desnutrição9.<br />Conhecer e caracterizar adequadamente o estado nutricional de uma população em diálise é fundamental tanto para a prevenção da desnutrição quanto para intervir apropriadamente nos pacientes que já se apresentam desnutridos.<br />Objetivo<br />O presente trabalho foi caracterizar o estado nutricional de pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise em um centro de diálise de Paracatu MG.<br />Métodos<br />Foram estudados 165 pacientes em hemodiálise, na Clinica de Hemodiálise Nossa Senhora de Fátima, Paracatu MG, durante o período de 01/3/2010 a 01/4/2010. Foram incluídos no estudo pacientes maiores de 20 anos de idade, em programa de hemodiálise há pelo menos 1 mês, e que não apresentavam comorbidades. Foram excluídos aqueles em uso de corticosteróides, com infecções recentes (< 3 meses), tuberculose em tratamento, doença intestinal, alcoolismo crônico, HIV, doenças malignas, insuficiência cardíaca e pulmonar grave e insucessos de transplante renal nos últimos seis meses.<br />Os pacientes foram submetidos a uma avaliação nutricional, realizada por nutricionista treinada, que constou de medidas antropométricas, laboratoriais e de consumo alimentar. O registro alimentar de três dias foi a técnica empregada para avaliar a ingestão média de energia, proteína, lipídio, carboidrato, cálcio e fósforo. Os três dias compreendiam um dia em que o paciente se submetia a hemodiálise e dois dias sem o procedimento, excluindo-se sábado e domingo. 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E a estimativa da porcentagem de gordura corporal foi realizada utilizando a seguinte formula: % de gordura = 4,95 / densidade corporal - 4,50 x 100, sendo considerados níveis normais de 15 a 18% para homens e 20 a 25% para mulheres. A adequação da PCT e da CMB foi calculada, utilizando-se a distribuição de Frisancho em relação aos 5º, 10º, 25º, 50º, 75º, 90º e 95º percentis definidos para a população normal. A classificação do estado nutricional baseou-se nas medidas da PCT e CMB, considerando-se como desnutrido ou com risco de desnutrição os pacientes com valores de PCT e/ou CMB menor ou igual ao percentil 5 do padrão de referência. Vale ressaltar as dificuldades em se caracterizar desnutrição na população de pacientes com IRC. Os padrões de referência das medidas antropométricas não são específicos para essa população, e nem mesmo para a população saudável brasileira, entretanto, essa ainda é a forma de avaliação nutricional mais utilizada e era a empregada na rotina da nutricionista da clínica. Além disso, as variações da água corporal podem influenciar as medidas antropométricas.<br />Foram analisados ainda parâmetros bioquímicos: uréia, creatinina, colesterol total e triglicerídeos, transferrina, cálcio e fósforo. A albumina foi medida pelo método verde de bromocresol (valor normal de 3,5 a 4,8 g/dL) e o PTH pela técnica imunoquimioluminométrica (valor normal de 10 a 65 pg/mL). Entre os parâmetros hematimétricos foram determinados hemoglobina, hematócrito e leucócitos totais. A ingestão protéica foi estimada calculando-se o equivalente protéico do aparecimento do nitrogênio (PNA). A eficiência da diálise foi estimada por meio do cálculo do Kt/V pela fórmula de Daugirdas II.<br />Resultados<br />64% dos pacientes eram do sexo masculino com idade variando de 18 a 84 anos. O tempo de tratamento dialítico variou de 3 a 127 meses, e a principal etiologia da insuficiência renal foi glomerulonefrite crônica 45,5%.<br />As médias dos níveis séricos de albumina, colesterol e transferrina encontravam-se dentro dos limites da normalidade. Somente 8% dos pacientes apresentavam níveis de albumina abaixo de 3,5 g/dL. Observamos ainda, que a média dos linfócitos se encontrava abaixo do normal, sendo que em 74% dos pacientes esta contagem era inferior a 1.500/mm3. As concentrações de cálcio, fósforo e PTH encontravam-se em média dentro do esperado para pacientes em hemodiálise.<br />O consumo de energia foi de 29,5±10,2 kcal/kg/dia, sendo que em 61% dos pacientes esteve abaixo de 35 kcal/kg/dia. O consumo protéico foi de 1,32 ± 0,4g/kg/dia, entretanto em 47% dos pacientes era inferior a 1,2 g/kg/dia e em 24% abaixo de 1,0 g/kg/dia. Observou-se ainda que, em média, 62% das proteínas consumidas eram de alto valor biológico. A estimativa de ingestão protéica avaliada pelo cálculo do PNA foi 1,14 ± 0,35g/kg/dia e em 42% dos pacientes os valores encontravam-se abaixo de 1g/kg/dia.<br />Verificou-se, em média, um reduzido consumo de cálcio, com 89% dos pacientes consumindo menos que 500 mg/dia. Em relação ao fósforo, o consumo médio esteve dentro dos limites recomendados para pacientes renais crônicos.<br />Como podemos observar, carne bovina, leite, pão, arroz, farinha e hortaliças foram consumidos em pelo menos um dos três dias avaliados pela maioria dos pacientes nos diferentes grupos alimentares.<br />A média do IMC esteve dentro do limite de normalidade (18,5 a 24,9 Kg/m2 ) e não diferiu entre os sexos. Entretanto, em 25% dos pacientes esse índice estava acima de 25 kg/m2 e em 4% abaixo de 18,5 kg/m2. Na população como um todo, a adequação da CMB, em média, esteve dentro do normal, de 90 a 110%, entretanto no sexo masculino a adequação foi significativamente menor que no sexo feminino e encontrava-se abaixo da faixa de eutrofia. Já a adequação da PCT encontrava-se abaixo da normalidade (60% a 110%) em ambos os sexos e a porcentagem de gordura corporal esteve dentro da normalidade no sexo masculino e se apresentava aumentada no sexo feminino.<br />Não houve correlação significante entre a PCT ou CMB com a idade, eficiência da diálise, etiologia da insuficiência renal, renda familiar e escolaridade.<br />Não observamos diferenças quanto ao sexo, idade, etiologia da insuficiência renal crônica, tempo em diálise, Kt/V e os níveis séricos de creatinina. Entretanto, os níveis de uréia e de fósforo dos pacientes desnutridos foram significativamente menores.<br />Conclusão<br />Este estudo teve como objetivo caracterizar o estado nutricional de pacientes em programa de hemodiálise na cidade Paracatu, onde existe uma população de etnias, culturas e bases alimentares diferenciadas.<br />Nossos resultados confirmam a elevada prevalência de desnutrição energético-protéica também em nossa população. Dos 165 pacientes estudados, 45% apresentavam desnutrição identificada por prega cutânea triciptal e/ou circunferência muscular do braço.<br />Muitos fatores de risco para ocorrência de desnutrição em pacientes dialisados têm sido estudados.<br />Em nosso projeto, não observamos correlação entre a etiologia da IRC e a idade com as medidas antropométricas.<br />O tempo em diálise parece também influenciar negativamente no peso e na composição corporal. Em nosso estudo, não observamos diferença entre tempo de diálise e os parâmetros antropométricos, ao compararmos os grupos de desnutridos e não desnutridos. Talvez o fato de nossa população ser constituída de pacientes jovens, em diálise por curto período de tempo e com poucos diabéticos, possa explicar de não termos observado essas associações.<br />As médias de albumina, colesterol e transferrina estavam dentro dos limites de normalidade nos pacientes estudados. Não encontramos correlação entre os níveis de albumina e os parâmetros antropométricos, e apenas 8% dos pacientes apresentam albumina menor que 3,5 g/dL. Além disso, não houve diferença nos níveis de albumina entre desnutridos e não desnutridos. No presente estudo, a albumina não se comportou como um marcador de desnutrição. Outros autores também observaram a baixa sensibilidade da albumina para detectar desnutrição.<br />Referência Bibliográfica<br />Revista de Nutrição.vol 17 no.3 Campinas July/Sept. 2004 ALBUMINA SÉRICA COMO MARCADOR NUTRICIONAL DE PACIENTES EM<br />HEMODIÁLISE.<br />Curso de Biomedicina<br />PROJETO DE PESQUISA<br />Paracatu, 01 de junho de 2010<br />Sabrina Moura Dorneles<br /> Albumina sérica como marcador nutricional de pacientes em hemodiálise<br /> <br /> Projeto de Pesquisa apresentado à disciplina de Bioquimica II da Faculdade Tecsoma.<br />